30 de agosto de 2007

Tempos Dourados

Quando se viram pela última vez, eram relevantemente mais jovens. Naquela época, ambos ainda tinham movimento no quadril e o exercitavam naquelas noite animadas de brisa friazinha, na qual os garotos emprestavam suas jaquetas de couro para as meninas que sorriam em agradecimento sempre cheias de esperança. Durante aquele período eles foram rebeldes com atitudes que hoje seriam consideradas castas e puritanas, e se surpreendem com o fato de que o comportamento rebelde dos adolescentes de hoje não seja considerado como tal, exceto quando ele extrapola os novos limites impostos, como gravidez, uso de drogas ou coisa que os valha.

Eles sorriram e se olharam como quem diz: "Te conheço de algum lugar, não conheço?". E sendo assim tentaram se lembrar. O senhor lembrava da época em que era um garanhão, chamando todas as meninas para dançar no salão e as embebedando de ponche. A senhora se recordava da sua época de mocinha, quando foi beijada pela primeira vez pelo homem da sua vida, que conheceu também num baile, porém até hoje ela não sabe que ele a embebedou para poder facilitar o processo do flerte que durou um tempo.

- Boa tarde. - Disse ele determinado.

- Boa tarde. - Ela respondeu sorrindo. Ele também se lembrava dela, talvez agora ela refrescasse a memória e descobrisse de onde o conhece.

- Não me leve a mal, mas estive ali te olhando e pensei... A conheço de algum lugar, não conheço?

- Oh, de maneira nenhuma. Para ser franca com o senhor...

- O senhor não, você. - Ela deu um sorrisinho bobo.

- Então, para ser franca com você, também me perguntava a mesma coisa.

- Pois é... Da onde será? - Ele pareceu buscar algo na memória ao mesmo tempo que ela fez o mesmo. - Bom, ajudaria se soubéssemos os nomes de cada um.

- Ah, pois não! Que indelicadeza a minha... Maria Ângela. E o do senhor?

- Carlos Eduardo. E senhor está no céu, por favor. Onde você estudava?

- Ah, me formei no Colégio João Baptista para Meninas.

- Então não foi de lá que nos conhecemos... Porém esse nome, Maria Ângela, me é familiar.

- Você não era amigo do Oswaldinho?

- Oswaldinho?

- É... Aquele, primo da Odeth, do João Baptista. Ele ia sempre lá nos portões da escola junto com alguns rapazes.

- Não, não... Não conheço nenhum Oswaldinho. Talvez seja o Osmar, lá da Rua das Laranjeiras.

- Você morava por lá?

- Morava, por quê?

- Ah! Mistério resolvido então! Eu morava logo atrás, na Rua Amélia! Sempre reuníamos o povo para ir até a Praça 15 de Novembro. Se lembra?

- Sim, nós jogávamos um futebol e vocês assistiam.

- Verdade.

- Nossa, que ótimo te rever, Maria Ângela.

- Realmente, Carlos Eduardo. Dá uma sentimento bom, um pouco saudoso.

-Pois é... - Ele olhou para o horizonte por um tempo e então retornou. - Tenho que ir agora, estou ocupado, comprando coisas pro meu neto que vai viajar.

-Bom, então se cuida! Nos vemos por aí, certo?

- Certo, até mais hein?! - E se despediram com um beijo no rosto.

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